Trinta e oito milhões de brasileiros desejam abrir o próprio negócio. É isso que mostra uma pesquisa do Data Popular, feita no segundo semestre de 2015. O profissional brasileiro sempre olhou para o empreendedorismo como uma forma de aumentar sua renda e conquistar uma boa situação financeira por meio das próprias mãos. Ao que tudo indica, mesmo em tempos de crise econômica, o trabalhador ainda acredita que pode vencer as adversidades. Isso porque, entre os quase quarenta milhões que não querem ter chefe, 78% já se preparam para abrir o próprio negócio.
Harry Barreto é uma dessas pessoas. Trabalhar como balconista durante quatro anos, em Feira de Santana, na Bahia, foi o suficiente para ele acumular experiência e começar a pensar em abrir sua própria loja de autopeças. “Aos poucos fui conhecendo o mercado, e percebi que é um ramo em ascensão”, diz o vendedor. Curiosamente, o Nordeste é a segunda região que concentra o maior número de trabalhadores que desejam empreender, perdendo apenas para o Norte do Brasil.
Barreto, por exemplo, pretende abrir sua loja em Conceição do Coité, cidade do nordeste baiano que fica a cerca de 100km de Feira de Santana. Para o balconista, a economia da cidade está fortalecida, e uma loja como a dele terá potencial para atrair consumidores. Além disso, como ele mesmo observou, não existem autopeças estruturadas que possam oferecer uma grande variedade de produtos e serviços em Conceição do Coité.
No entanto, Harry afirma que sua maior dificuldade é compreender as etapas necessárias para se abrir um estabelecimento. “Minha maior dúvida, na verdade, é em relação ao investimento inicial e ao capital de giro. É difícil colocar no papel um número exato para o primeiro investimento”. Por esse motivo, ele mesmo conta que está indo com calma. “Nem cheguei a procurar por um ponto comercial, já que pretendo abrir o comércio só no final do ano. Por enquanto, estou só estudando a concorrência. Já aproveito e espero a crise passar”, brinca o balconista.
> Dicas do especialista
Para responder as dúvidas do Harry e dar outras orientações para os empreendedores de primeira viagem, a revista Balconista entrevistou Cláudio Gonçalves, fundador da Consultoria CG. Com mais de 20 anos de experiência em gestão de negócios, Cláudio separou dicas preciosas. Confira:
1. Investimento Inicial
“É preciso enxergar o tamanho do comércio para estabelecer o investimento inicial. Pensar sob o ponto de vista da dimensão do estoque, da contratação de funcionários, e dos gastos de ativo fixo, como o aluguel. Além disso, é necessário levar em conta as despesas com contratos e taxas. Nessa hora, é muito importante um contador para definir qual será o regime fiscal do negócio. Isso evitará gastos e riscos desnecessários para a empresa e para os sócios. Outra dica importante é usar o SEBRAE. É um ótimo parceiro e referência no mercado para pequenos negócios”.
2. Capital de Giro
“O capital de giro depende do ciclo financeiro do negócio, ou seja, o valor entre os desembolsos realizados pela loja, menos os ganhos recebidos. Em média, após três meses de faturamento é possível estabelecer um bom capital de giro para a loja”
3. Impostos
“Essa é uma questão complicada. Basicamente, existem três tipos de tributação no Brasil: simples, presumido e lucro real. A melhor escolha passa por uma análise minuciosa, desde a composição societária da empresa até os produtos que ela irá vender. Também nesse caso, o contador se torna muito importante.”
4. Gestão PDCA (Planejar, Desenvolver, Conferir, Alavancar)
“Na minha opinião, esse é um modelo de gestão com base sólida para o negócio. Está sendo cada vez mais difundido nas empresas, públicas ou privadas. É um modelo que veio do Japão e foi adaptado para o Brasil pelo professor Vicente Falconi, referência em gestão. O PDCA é um modelo simples, porém, com forte impacto no resultados.”
5. Crise Econômica
“O momento econômico que estamos passando apresenta duas situações: empresas que estão sentindo a crise, e outras que crescem até dois dígitos. No mercado de autopeças, que é muito particular, percebemos que a venda dos veículos novos estão caindo. Isso significa que os carros mais velhos estão ficando mais tempo com seus donos e, por isso, os gastos com manutenção devem aumentar. Por outro lado, as concessionárias que vendem peças autorizadas estão sofrendo com a retração, pois estão sendo substituídas por peças convencionais.”
6. Aplicativos para empreender
Para impulsionar o negócio, qualquer ajuda é bem-vinda, inclusive da tecnologia. Afinal, hoje é essencial para qualquer empreendedor estar conectado. Já existem diversos aplicativos com dicas e guias para gerenciar empreendimentos. Além disso, aproveite que o celular está sempre à mão e tenha acesso instantâneo aos documentos, planilhas, contas, contatos e estatísticas do seu comércio.
7. BIS - Biblioteca Interativa do Sebrae
São mais de quatro mil cartilhas, guias e publicações digitais sobre gestão, inovação, desenvolvimento sustentável e serviços financeiros. Disponível para Android e iOS, também é possível acessar o conteúdo por www.bis.sebrae.com.br
8. Qipu
Para Android, iOS e Windows Phone, esse aplicativo é focado no microempreendedor individual. A ferramenta avisa, por exemplo, sobre o vencimento do Simples Nacional, sistema diferenciado de cobrança de impostos para empreendedores, e sobre o prazo de entrega da declaração anual dos microempreendedores. Também é possível lançar gastos e vendas para controlar o fluxo de caixa. Por último, ele oferece informações sobre benefícios previdenciários, como auxílio-doença e licença-maternidade.
9. Coach.me
Para cumprir tarefas básicas, esse aplicativo permite estabelecer metas diárias, como zerar o caixa, conferir o estoque e checar os e-mails. Disponível para Android e iOS.
10. Bills Reminder
O app organiza as contas pagas e lembra a data de vencimento das que ainda não foram quitadas.
11. Mint
Um dos melhores apps para controle de custos, ele separa as despesas em quatro categorias: despesas únicas, como investimento inicial; despesas fixas, como aluguel e outras contas; despesas variáveis, como comissão para funcionários; e as despesas opcionais, como oferecer café e outros serviços gratuitos para clientes.
Fonte: Revista Balconista S/A